Relatos de Belzebu a seu Neto
Até 1924, Georges Ivanovitch Gurdjieff havia ensinado à maneira oriental, só comunicando suas idéias a um pequeno círculo de discípulos, sempre de forma direta, teórica e prática ao mesmo tempo, e sem nunca autorizar que tomassem notas das indicações que lhes eram fornecidas. Naquele ano, em seguida a um grave acidente, ele concluiu que era chegado o momento de dar a conhecer o conjunto de suas idéias “de forma acessível a todos”. Tratava-se então de evocar essas idéias por meio de um livro, de modo que suscitassem no leitor desconhecido um fluxo de pensamentos não habituais. Com esse fim, ele resolveu adotar a forma, comum às grandes tradições, de um relato mítico “na escala do universo” mas que permanecesse centrado sobre essa questão central: o significado da vida humana.

Desde então, sem negligenciar suas outras atividades, ele assumiu a função de escritor, com a presteza e o vigor que caracterizavam cada uma de suas empreitadas, e com aquela habilidade de artesão que lhe havia permitido assimilar em sua juventude tantos ofícios. Sua obra foi escrita em condições ãs vezes difíceis e nos mais diferentes lugares. À medida que se desenvolvia, ele fazia ler trechos em voz alta e depois os modificava.

Alguns anos mais tarde, quando G. Gurdjieff terminou sua obra, não era só um livro que ele havia escrito, mas toda uma série. Ele intitulou esse conjunto monumental: Do Todo e de Tudo e os Relatos de Belzebu a seu Neto constituem sua primeira parte.

Esse livro já é uma lenda. Seu caráter audacioso fez pensar que nunca seria publicado. Entretanto, em 1948, um ano antes de sua morte, G. Gurdjieff já tinha preparadas edições em várias línguas. Em 1950, foi publicado simultaneamente nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Áustria. Em 1956 o livro saiu na França, sete anos após a morte do autor e vinte anos depois de haver sido escrito.

Trata-se de um acontecimento para a humanidade, pois esse livro destina-se a todos aqueles que carregam algumas questões fundamentais às quais nem a ciência nem a moderna filosofia puderam fornecer respostas. Para esses leitores este livro será uma aventura, uma aventura difícil, num terreno desconhecido, repleto de ciladas, mas será a maior das aventuras se despertar neles o desejo de vivê-la em sua totalidade.

O texto acima foi reproduzido da capa da edição francesa do livro Relatos de Belzebu a seu Neto
(Paris: Edição Janus, 1966).